segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um relato verídico de uma cidadã


Brasília pede socorro

                                       Ivanildes Silva

Domingo, noite de 14 de outubro de 2012, centro da cidade de Brasília, W3 Sul, Setor Comercial Sul. Eu e minha filha ao retornarmos de um passeio que julgava ser promissor, experimentamos os momentos de medo e terror em pleno centro da capital, a alguns metros da Esplanada dos Ministérios,Praça dos Três Poderes. A volta para casa tinha tudo para terminar bem, porém não foi bem assim.

Viemos de um shopping, perto da Nova Rodoviária. A Estação do Metrô fechou às 19 horas e foi necessário pegar um transporte para um local onde pudéssemos tomar outro até nosso destino final: Sobradinho. Perto da Nova Rodoviária, a parada de ônibus mal localizada, mal iluminada, e, na qual, embora estivesse uma placa de proibição de estacionamento, isso era desobedecido. Já que não havia fiscais para ordenar o tráfego no local, os passageiros ficaram no meio dos veículos estacionados. Tomamos o ônibus e a ideia era descer em um local mais seguro, pois em toda a extensão da W3 Sul, as paradas estavam vazias e escuras. A opção foi saltar em frente a um local mais movimentado e bem iluminado.

Assim que descemos do ônibus na W3 Sul, entre as 20 e 20h30min, percebemos um clima não muito agradável. Justo bem em frente a um grande e famoso shopping, estavam ali meninas, meninos, homens, crianças, comercializando drogas, disputando o local de venda de “seus produtos” com os transeuntes e intimidando os passageiros que esperavam o ônibus. A parada de ônibus foi completamente ocupada por essas pessoas. Os bancos foram ocupados e nós ficamos em pé, tentando nos distanciar daquilo e todos juntos, como se estivéssemos agarrados a uma tábua como único meio de salvação num barco que lentamente naufragava.

A Praça do Setor Comercial Sul, um dos endereços mais famosos de Brasília, tinha sido tomada por “comerciantes” de todas as idades, transformando-se em um shopping popular. Enquanto isso, temíamos acontecer algo de mais grave conosco. Além disso, o outro problema era a demora do ônibus. Foi aterrorizante, pois imaginávamos que, a qualquer hora, alguém tomasse ou arrebatasse nossos pertences e nosso dinheiro. Toda hora vinha um pedir um trocado para comprar um lanche. Mas sabemos que aquela conversa era “para boi dormir”, pois, na verdade, queria angariar um dinheiro para alimentar seu vício. Isso era flagrante na feição do jovem. Quando um viu passar uma viatura, avisava aos demais que debandavam para as galerias do Setor Comercial Sul ou atravessavam para os arredores do shopping e se escondiam, momentaneamente, sabendo que nada aconteceria.

Durante esses momentos de terror, nenhum carro da polícia parou ou fez alguma investida pelas imediações, o que nos causou espanto. Até os turistas sentiram-se intimidados com aquela situação e depois de longa espera, atravessavam no meio dos carros, em busca de um táxi em frente ao shopping. O comentário geral era que as ruas estavam entregues ao tráfico, assim como pairava um clima de tristeza, presenciando aquelas cenas terríveis. Muitos de nós nos lembrávamos de um passado não tão distante em que tínhamos a liberdade de transitar livremente pelo centro de Brasília em busca de diversão com nossas famílias. Logo depois, voltávamos tranquilamente para nossas casas, incólumes, no fim de semana.

À medida que o tempo passava, todos iam se juntando ali num espaço pequeno, tentando se resguardar, assim como proteger a família: mulheres com crianças de colo, pessoas mais idosas, famílias, casais de namorados, jovens que saíram do shopping, assim como funcionários. Minha filha respirava forte e aflita, não só pelo que testemunhou como também pela demora do ônibus. Eu a acalmei, porém também estava também aterrorizada com o que via. Todos passavam pelo mesmo sentimento de terror e revolta. A perplexidade era enorme com o que víamos ali estampados em nossos olhos, em plena noite de domingo. O que dava mais medo era saber que o transporte demorava mais e o medo aumentava.

Na tentativa de “fugir” daquele clima ameaçador, tivemos que pegar um ônibus até Rodoviária do Plano Piloto, a fim de encontrar o ônibus para Sobradinho. Mesmo assim, verificamos que, embora as ruas estivessem escuras, o local parecia mais tranquilo e seguro. Ali a ronda policial estava mais intensa e por isso, talvez, não tenhamos visto cenas deprimentes como as que vimos na W3 Sul. Toda hora passava uma viatura e o esquema ostensivo de policiais no local, diminuía o poder de ação dos infratores.

Como cidadãos honestos que somos, pagamos altos impostos e taxas exorbitantes. Nessa hora, não temos o retorno disso, que ao menos se resumiria a uma ronda policial mais intensa, afastando aqueles indivíduos. Ao menos, poderiam zelar pela nossa integridade física e moral. Minha sensação de cidadã caiu por água a abaixo. O clima de insegurança da gente e a noção de impunidade daqueles menores e jovens infratores fazem com que as ruas sejam cada vez mais lotadas de gente como essa. Foi deprimente ver nossos familiares compartilharem esse clima de insegurança. Usuários fumavam ali mesmo, na W3 Sul, lugar central e privilegiado. Traficantes anunciavam e vendiam ao lado de demais pessoas. A quem recorrer? O que nos esperava?

Apesar de a mídia divulgar, amplamente sobre a violência do centro da cidade, isto é, que as ruas de Brasília estão entregues aos meliantes, menores infratores e usuários de drogas, é difícil de acreditar. A ideia que temos é que há exagero nessas informações para ganhar pontos na audiência diária nas emissoras. Entretanto, o que vimos e passamos foi exemplo de que, realmente, a imprensa está certa.Infelizmente são dados concretos de que as vias públicas estão se tornando, cada vez mais palcos de impunidade por parte de pessoas inescrupulosas e que estão ali para “comercializarem” todo o tipo de produto ilícito.

Pelo que eu, minha filha e outras pessoas pagadoras de seus impostos pudemos testemunhar, o problema da violência urbana está piorando a cada dia. Temo pelo que poderá acontecer em um futuro próximo. O clima gerado pela tensão só nos tira a vontade de jamais voltarmos àquele local com nossas famílias. Também foi fator negativo para os turistas, que, provavelmente farão um comercial negativo lá fora. Além disso, estamos prestes a receber dois grandes eventos: a Copa das Confederações em junho de 2013 e, em 2014, a Copa do Mundo. Brasília, portanto, a cidade sediará eventos internacionais dessa importância e precisa se adaptar à nova realidade, dando segurança, conforto e bem estar aos seus moradores, aos turistas nacionais e  estrangeiros.

Depois do que passamos, continuo a afirmar que o caso da violência no centro da cidade está grave. Chegou o momento de as autoridades, urgentemente, tomarem medidas eficazes em favor de nossa segurança. O intuito de tais ações efetivas é garantir mais qualidade de vida aos usuários do transporte urbano e também a outras pessoas. Deve haver maior fiscalização dos horários dos ônibus, aumento da frota e punição das empresas pelo descaso e descumprimento de horários, a fim de não deixarem os passageiros expostos a qualquer ameaça.

É imprescindível também que haja ,por meio dos poderes públicos ,mais sensibilização para com os cidadãos. A carga tributária é muito alta e o retorno muito pouco ou quase nada em termos de segurança, saúde, educação e transporte, não só para os turistas, mas também para os habitantes dessa cidade, centro das grandes decisões e exemplo de modernidade para o resto do país. Com todos esses problemas vão se esvaziando ainda mais, a W3 Sul, a W3 Norte, o Setor Comercial Sul e Norte, as quadras e entrequadras da moderna Brasília. Aos poucos também vai morrendo um passado de glória e tradição em 52 anos de fundação da cidade. Brasília agoniza, pedindo socorro urgente às autoridades públicas,antes que morra à míngua, entregue à violência e entregue à sua própria sorte.

    Texto escrito em 14 de outubro de 2012

 

 

Um comentário:

Jéssica Gadêlha disse...

Infelizmente essa é a realidade de Brasília diariamente podemos observar situações como essas, não apenas somente na capital, mais sim em qualquer lugar, essas coisas já estão virando costume e nada mesmo esse é o nosso país, onde nada e feito, e a injustiça é o que reina.

Jéssica Gadêlha

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